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#blessourlungs

Segunda passada tive a oportunidade de participar de uma vivência coordenada por uma querida amiga e excelente arteterapeuta, Sherry. Durante a vivência tivemos a oportunidade de agradecer pelo elemento ar, que nos nutre e alimenta o tempo todo.


Também fizemos uma meditação guiada em que deixamos ir tudo aquilo que não nos servia mais. Me peguei impressionada com o tanto de lixo emocional e de peso que ainda carregava secretamente. Conforme o fogo transmutava todas as dores que eu vinha arrastando, as lágrimas transbordavam pelos meus olhos, lavando meu corpo e meu espírito de forma ritualística. Renasci! Leve como a brisa que enche meus pulmões.


Olhei para cada cicatriz emocional com amor. Me despedi da dor.


No momento de produção artística do encontro me peguei olhando para a folha em branco que eu havia separado, imaginando milhares de possibilidades poéticas de registrar os meus pulmões, como direcionava a vivência.


Por mais que eu quisesse controlar o processo, internamente o meu desenho já tinha forma e elas me levavam para um caminho que eu tive medo de revisitar.


O tempo embriaga as dores, é verdade! Mas algo fica. Uma ardência sem nome permanece marcando a lembrança de um coração atravessado pelo luto. Meus pulmões me guiaram rumo a essa lembrança. A memória do meu avô, que se foi há quatro anos, e dos nossos momentos juntos, esmurraram a porta como se dissessem: "Olhe para mim!". Assisti ele despedir aos poucos, ao longo dos anos, lutando pelo ar por conta do Parkinson, da fibrose pulmonar e do reumatismo. No dia em que ele se foi expiramos juntos pela última vez, exaustos!!! Com os olhares e os corações conectados em um silêncio sepulcral...


Para deixar que as lembranças se aproximassem enchi os pulmões de ar e de coragem. Quase pude ouvir a sua voz repetindo uma das nossas piadas internas. Segurei o lápis de cor na mão, completamente entregue, e me deixei guiar. Meus pulmões tomaram forma de pasto, daqueles bem verdinhos em que criança corre de pé descalço sem medo. Os brônquios abrigaram a lombada de um grande livro vermelho, que carrega no segredo de suas páginas, cada uma das histórias com as quais ele me embalou. Da minha traqueia brotam ondas agitadas, talvez a força da sua arrebentação vem da pressão criada pelas lágrimas engolidas ao longo dos anos. E por cima das ondas, brotam flores lindas, coloridas e vivas!


Escrevi:

"Desse livro te dou a sabedoria, as histórias e os aprendizados.

Nessas pegadas um norte.

No correr do rio acolhimento e nutrição.

Pelas borboletas, guias que te trazem inspiração e luz para seguir confiante.

Das flores te deixo a certeza de que você é terra forte e abundante, e de que a vida sempre brotará outra vez através de ti, em um eterno recomeço."


Um testamento. Herdei amor coragem e sabedoria!

Na minha alma nossos laços não morrem.


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